Traste
(José Holanda Padilha Jr)
Parece que um dia já tirou minha paz
Hoje não me faz perder a compostura
É como um móvel velho no canto da sala
Numa oportunidade vai pro olho da rua
Revirando o lixo, tropeçando em seus passos
Dá medo ver o traste fazendo das suas
Só se mantém de pé por ter sempre ao seu lado
Esse bando de tolos que o dá estrutura
Se vai ter embate a verdade é que eu não sei
Que leve a luz ao inferno onde descerei
Cheiro de Gasolina
(Carmen Cunha)
Eu quero mais cheiro de gasolina
Combustão e fogo
Quero incendiar o estádio do seu jogo
Molotov e bomba
Queimar um camburão
Eu quero mais é ver vitrine ir pro chão
Eu quero me vestir toda de preto
Tampar o meu rosto
Quero tomar de volta essa terra que é do povo
Ocupar o mundo
Eu quero revolução
Quero é tirar o poder de suas mãos
Puro pra você
(Roberto Teodósio)
Não me sentencie agora
Sonhos loucos me tomam
Um corpo suado na escuridão
O medo de perder o que já não mais existe
E as mágoas, tantas cicatrizes invisíveis
Liberte minh'alma
Não posso voar não suporto fogo
O inferno está perto, me chama
Um corpo vaga, vogo de atos e rumos
No desatino no momento
da rejeição
Quando a escuridão se for, surgirei puro pra você
Liberte minh'alma
Não posso voar não suporto fogo
Na Sujeira da Cidade Deixarei o Meu Penar até Morrer
(Pedro Salvador)
Houve um barulho, depois confusão
E eu não sabia o que fazer
Você já corria, subindo a montanha
E não tinha nada a dizer
Quem vai achar que é normal estar cansado hoje em dia?
É que às vezes não há tempo nem sequer para apatia
Na sujeira da cidade deixarei o meu penar até morrer
Venha, me acompanhe, te estendo a minha mão
Olhe à sua volta, não saia da contramão
Eu estou chamando, mas não tenho onde ir
Estou caminhando nas brechas do existir
Na esteira do porvir
Me acenda o sol
Amanheça viva
Não me venha só
Traga melodia
about
Produced and played by Pedro Salvador
credits
released July 10, 2020
"Num mundo tão ruidoso, faz falta parar pra ouvir.
Sempre acreditei que músicas falam conosco, contam histórias, guardam nossas memórias, registram opiniões, eternizam amores e também gritam revoltas. Em meio a uma pandemia, onde olhar pro outro é repensar nossas prioridades individuais, eis que calhou de um trabalho de produção "tão solo" falar e pensar o coletivo.
Solo, mas falando conversando com os sentimentos de um monte de gente, "Traste" é o novo EP do Pedro, um álbum - segundo ele mesmo - curto e mais agressivo.
As versões soam Pedro, embora somente a última música - "Na sujeira da cidade deixarei o meu penar até morrer" - seja de sua autoria.
As quatro faixas soam como uma revolução dançada, cada uma num ritmo, uma hora jogando energicamente pra cima tanto pesar que guardamos ao longo de nossas caminhadas individuais e sociais, falando sobre expectativas e talvez mantendo uma versão até otimista de que haverá um tempo a se curtir pós-tempestade. É importante lembrar, sobretudo em 2020, que vandalismo é valorizar vidraças, bancos e economia frente à existência das pessoas e que nenhuma revolução será pacífica.
"Traste" como um todo, parece ser sobre pessoas, parece sobre a vida de muita gente, parece sobre mim, parece sobre você. A verdade é que o mundo tá acabando e felizmente sendo recriado todos os dias. Junto a ele, nós também estamos passando, então não vale muito a pena assistir sem participar de tudo isso.
Por isso posicionem-se, mas também tome um fôlego. Acolha - ao menos com o olhar - não só quem caminha ombro a ombro a sua caminhada, mas todas as pessoas que precisam urgentemente serem vistas em nosso bairro, cidade, estado ou país. Cuide-se, mantenha-se vivo, faça você mesmo, mas sempre que precisar peça ajuda.
Pra mim e pra muitas pessoas, seria muito mais difícil entender e participar disso tudo sem música.
Portanto, pare um pouco pra ouvir sempre que possível e escolha bem sua trilha sonora para o fim do mundo."
(Bárbara Oliveira)
"Enfim é lançado“Traste” de Pedro Salvador, um artista talentosíssimo e pessoa maravilhosa, para o qual tive o prazer de fazer a imagem de capa do EP. Quero falar um pouco pra vocês como foi esse processo criativo e minhas impressões do disco. Primeiramente, tive o privilégio de ouvir esse álbum antes do público em geral e o conceito para a arte e toda a obra foi produzida ouvindo-o. Na minha percepção, as músicas dialogam muito com o contexto do caos político instaurado no Brasil atual, mas não como um lamento, ao contrário, trazendo muita energia pra enfrentar e superar essa realidade. Eu já era fã do Pedro, depois dessas músicas me tornei ainda mais, quem me conhece sabe que não fujo da raia e que sou crítica a esse sistema segregador e opressor, que está nos dizimando não é de hoje, bem sabemos, mas que tem ido ao seu ápice com a escalada da extrema direita no país e no mundo. Nas minhas primeiras impressões usei “pesado e delicioso” para me referir ao som que estava ouvindo e sentindo, depois fiquei tentando significar o porque desses adjetivos terem surgido, e cheguei ao seguinte: pesado pois o rock, meu amigo, trás aquele impacto pro ser, estar pesado é estar carregado de coisas, preenchido, e pelas letras também que, como a gravidade, puxam nossos pés pro chão. Considero que toda arte quando surge tem vida própria e nos fala lá do seu lugar, estar grávida etimologicamente se refere ao estar “pesada” por carregar outro ser dentro de si, compartilhando o radical e o sentido de peso com a palavra “gravidade”, oq nos leva também a pensar na gravidade da nossa situação. E delicioso em função do ritmo envolvente, os solos de guitarra que praticamente falam com vozes próprias, vozes que carregam sentidos que ainda não aprendemos a decifrar completamente, e me imaginei dançando e pulando no meio da multidão, pra mim, que sou sinestésica, nada mais delicioso que isso. Pedro traz a pegada psicodélica pra raiz rockeira das músicas, mistura com um toque de blues, uma atmosfera underground e um tanto de punk (pq não?), no sentido da agressividade e da carga política que evoca. O massa é que isso se dá não como se estivesse ensinando algo academicamente, mas ensinando com a vivência, com os sentimentos suscitados, com as imagens construídas. Ouvindo atentamente peguei alguns signos indiciais: a liberdade, a raiva nas ruas, a cidade, a atmosfera de medo e enfrentamento do medo, o fogo, o poder, “o traste” aprontando das suas (sempre, todos os dias), as estruturas que temos de destruir para reconstruir, o eu-tu se sobrepondo ao eu-isso (as relações entre seres sendo, fundamentalmente, mais do que a relação entre o ser e o objeto, por mais subjetivado e fetichizado que os objetos possam ser nas relações de consumo contemporâneas). Tudo isso levei pra imagem (ou tentei rs). Usei uma técnica mista de colagem e pintura, os trechos utilizados foram extraídos da constituição, (mas, calma, não foi do original, eu tirei xerox), simbolizando as derrotas (in)constitucionais que temos presenciado, o carro em chamas refere-se ao desapego à propriedade e à legitimidade da raiva do povo diante de tanta injustiça. O fogo é o elemento central, por que é dinâmico, quente, volátil, assim como as músicas, e também por simbolizar não somente a destruição, mas também a purificação, a mudança da matéria, o renascer das cinzas, do qual tanto precisamos. A cortina de fumaça que é levantada esconde muitas coisas e remete ao desconhecido, aos problemas que às vezes não conseguimos nem mensurar, mas que também indica a ascensão aos céus, ao ato de propagação, ao distribuir-se por aí… assim como a arte deve ocupar todos os espaços. Foram muitas ideias condensadas em um fundo preto, caótico e misterioso como a noite profunda. Esse disco é um acalento, nos enche de energia, mas também um chamado, a gritar, se posicionar, reunir, não baixar a cabeça! E bora escutar essa peeeeeeedra genuinamente alagoana, eita terrinha boa pra parir artistas! Essa experiência com certeza estará gravada na minha história e agradeço ao Pedro por ter me convidado a participar desse momento da sua carreira, me deixando tão livre pra criar, do jeito que eu gosto e preciso. Vida longa ao EP “Traste”! E Molotov e música pra cima deles!"
(Lara Rani)
"De certa forma, "Traste" é uma continuação das explorações que fiz em "Glitch Witch". Uma busca pelo equilíbrio entre agressividade e lirismo através dos caminhos sonoros do que se chamava antigamente "hardão setentista" - um amálgama de blues, funk, jazz e r&b tocado com instrumentos distorcidos em alto volume, a música negra do norte atravessando a eletricidade. Mas enquanto "Glitch Witch" foca, liricamente, nas fronteiras da percepção e cognição humanas, "Traste" pisa no chão com pés descalços. São canções urgentes, que transpiram raiva e frustração. A 3 primeiras, de Holanda Jr, Carmen Cunha e Roberto Teodósio, respectivamente, foram compostas há anos, no entanto dialogam perfeitamente com o Agora. E até que consigamos deter a marcha destruidora do capital sobre nossas sobrevivências e afetos, estas músicas continuarão poderosas e necessárias."
Pedro Salvador)
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